Suit Means Business – O fato por medida
Suit Means Business
Fato significa “negócio”, e um bom fato vai muito para além desta mensagem sublimada.
Adquiri-lo por medida transporta-nos para outra dimensão.
A compreensão deste conceito é a base para saber mandar fazer um fato por medida
São 4 as chaves a reter: Fato, Por medida, “Negócio” e Dimensão
O Fato
Numa abordagem purista do fato clássico, ele é um conjunto de 2 ou 3 peças, se acaso levar colete, feitas do mesmo tecido. Se for feito por medida ele torna-se uma peça única, de um só indivíduo que o escolheu, provou e aprovou consoante variadíssimos critérios de modelo, tecido, cor, confeção e acabamentos. O pináculo do guarda roupa masculino.
O Casaco.
Saber encomendar e falar de um casaco consoante o que dele se pretende é o primeiro passo para o sucesso do mesmo. As variáveis são imensas para que o estilo se manifeste e a obra nasça.
O casaco pode ser um paletó 1, 2 ou 3 botões, ou um assertoado de abotoadura mais ou menos evidente, desde o 2/1 ao 6/2 i.e. 6 botões dos quais 2 abotoam. A largura das bandas, pode ser uma questão de moda, mas vai para além do efémero do ditame. A banda do casaco deve estar harmoniosa com a largura e altura de tronco, e ser acompanhada do mesmo critério quanto ao colarinho e largura da gravata. A banda deve medir a mesma largura que a base de uma gravata.
As bandas podem ser em bico ou com abertura (a mais comum) entre a gola e a banda, bem como de rebuço para smokings que podem ser no mesmo tecido, em veludo ou de seda.
Pode ser sem aberturas, com uma única a meio ou, a mais comum, as duas aberturas laterais que facilitam levar a mão ao bolso e, ainda assim, o traseiro do casaco mantém-se direito. Tornaram-se mais populares quando se deu a mudança do cavalo para o automóvel.
A confeção continental inglesa ou mediterrânica italiana tem a ver tanto com o tipo de clima e construção mais ou menos leve, mas também com a imagem que se pretende. Se a primeira prima por tecidos de mais “corpo” e entretelas consistentes, a outra privilegia a leveza de tecidos e da construção o que não quer dizer menos elaborada, menos requintada ou de menor excelência. É como preferir uma marca de carros de alma britânica ou italiana.
No casaco clássico utiliza-se a inserção de 3 bolsos, ainda que a apostura de 4 seja utilizada em casacos desportivos. Esses 3 bolsos consistem em dois laterais e um de peito. Se o bolso de peito é campeão quando “de vista” – o mais comum e que apenas deve servir para acolher um lenço de bolso em seda, linho ou lã- os bolsos laterais aceitam ser com ou sem paletas, horizontais, ligeiramente inclinados ou muito inclinados. A inclinação dos bolsos, tal como a abertura, prende-se com o andar a cavalo.
Não desprezar os bolsos interiores do casaco, pois, tal como todos os seus outros componentes, também eles têm uma função específica, cada um deles. É possível, por isso mesmo guardar comodamente dentro de um casaco os utilitários do dia a dia como carteira, agenda, telemóvel, tabaco ou frasquinho de desinfetante para as mãos (hoje tão importante).
A decoração de um casaco é a sua diferenciação, por vezes, a sua identidade.
Os pespontos podem ser à beira a 1mm (o mais comum) ou a 6mm, ou mesmo a 6mm duplo para um aspecto mais arrojado, à cor do tecido ou em contraste para marcar presença. O caseado, para além do item cor, tem também marcas de qualidade e exceção como as casas das mangas serem abertas (símbolo de medida) e o olhal da banda ser verdadeiro ou em costura milanesa para um toque de distinção. Os botões devem ser escolhidos tendo em conta a personalidade do utilizador e o impacto que este pretende ter no outro, podendo ser em poliéster ( os mais comuns), em trocas ou corno, ou em metais ou pedras mais ou menos preciosos.
O casaco tem também as suas vertentes de cerimónia quando se aplica a um evento do tipo casamento, batizado ou vernisage após as cinco da tarde e eleva-se a smoking ou a casaca ou White-Tie na alta cerimónia que peça um dress code apropriado. Em versão coordenada i.e. onde as peças não são todas no mesmo tecido e cor, o smoking francês ou tuxedo americano, passa m a dinner-jacket. Até às 17h o indicado, para além do smoking, é o britânico morning suit que conhecemos como fraque.
No fato de cidade ou fato executivo, fato de lazer ou fato de evento descontraído, fato para viajar, fato para uma reunião empresarial on line ou fato de cerimónia, é fundamental a escolha do tecido apropriado. Neste aspeto, se veste fato por medida ou procura alfaiataria, o melhor é aceitar o conselho do seu estilista de medida ou alfaiate de confiança, ele saberá qual o mais adequado após uma conversa acerca da performance pretendida e do investimento disponível.
A Calça
A calça clássica para fato, é um item importantíssimo e de igual necessidade de perícia e saber para que o “par de calças” vista tão bem como assenta o casaco.
Sem, com uma, duas ou até 3 pregas, dobradas para o exterior ou interior do eixo vertical do corpo, esta é a primeira característica que salta à vista, quanto ao modelo. No entanto, a aplicação de bolsos estilo francês (o mais comum) pode também variar para bolso italiano de duplo vivo ou inserido na costura, mais utilizado, tal como a(s) barra(s) de cetim de seda vertical em calças, em uniformes de gala e cerimónia, são importantes fatores de estilo, bem como bolso de moedas, bolso de isqueiro ou relógio ou bolso de cartão bancário.
O cós, alto ou baixo a gosto pode ser de 6 ou 8 passadores, ou sem passadores, mas com presilhas laterais ou traseiras, ou estilizado em V para aplicação de suspensórios. No interior de uma calça convém que o cós seja de boa tela de algodão e o forro de meia perna de alta qualidade o que contribui, junto com um bom corte, para o melhor conforto.
Mais ou menos afiambrada, de boca de bainha com ou sem dobra – consoante gosto pessoal ou utilização – a calça encontra-se com a moda no seu “cair”, aqui, na bainha. Se estreita convém ser acima do tornozelo, se larga pode descer até ao tacão do sapato.
O Colete
O colete clássico para fato não é, das 3 peças, a de somenos protagonismo. A direito ou cruzado, sem ou com banda, com bolsos de peito ou sem, mas sempre elegante quando porta um relógio ou umas chaves presas com corrente, o colete goza da mesma decoração e detalhes que o seu primo casaco. Por vezes, se em versão coordenada, ele é o “Coringa” que faz os fatos diferentes e lhes pode acrescentar um toque de sofisticação e bom gosto.
Para o executivo que gosta de tirar o casaco quando no seu escritório, o colete oferece a possibilidade de ter nas costas o mesmo tecido da frente o que permite uma maior elegância sempre que em “mangas de camisa”.
POR MEDIDA
Nesta chave está a quinta-essência da elegância. Ser o fato por medida é ser único. Tem uma história vivida pelo alfaiate e pelo cliente, tem uma identidade que reflete um carácter e uma personalidade, tem uma alma feita de experiência e tradição, executado por mãos de hábeis artesãos e artesãs que o produziram, e não são poucos. O bom fato respira os ares dos Himalaias ou das Highlands britânicas, a fiação de Huddersfield ou Biela e as mãos experientes de alfaiates e costureiras que entregaram horas do seu saber ao desejo do cliente.
Ser “por medida” é o tecido, padrão e cor que esse desejo exprimiu e a obra se fez, mas é também a certeza de que o fato respeita a anatomia do cliente, fazendo sobressair as suas qualidades e encobrindo o que se quer encoberto, para que no final a silhueta seja perfeita, equilibrada e harmoniosa.
Um casaco tem uma cintura que deve coincidir com a do cliente, uma curvatura de cotovelo de manga que deve encontrar o cotovelo do cliente, e uma angulação de ombros que deve coincidir na perfeição com as características do corpo do cliente. Só os fatos de pronto a vestir são simétricos e direitos no prumo, como os manequins que os vestem nas montras. O corpo humano é dinâmico e genético, tem nuances de genética, postura, ou hábitos adquiridos que só o fato por medida pode compreender. O olho experiente do estilista de medida ou do alfaiate saberão a altura exata das mangas ou bainhas bem como distinguir um peito forte de um peito mais discreto, de uma costas mais redondas ou de umas omoplatas mais desenvolvidas, de umas côxas mais fortes, uns joelhos mais ou menos juntos, entre outras características ergonómicas de cada um, impossíveis de colmatar no pronto a vestir e que fazem deste ultimo o fato do tamanho que “serve” e do primeiro o fato que veste e assenta bem porque foi feito para uma só pessoa.
O “NEGÓCIO”
“Negócio”, entre aspas pois não é de negócio que se trata, é seriedade. “Negócio” implica seriedade, dedicação e compromisso. Esta noção de “negócio” comunica com o(s) outro(s) e confere excelência aos acontecimentos mais importantes ou mais fúteis, esporádicos ou diários. O fato é “negócio” no trabalho, no encontro social, na sedução, no respeito e admiração, no evento especial, na entrevista. Sempre que algo façamos que clame ou mereça o melhor de nós o melhor aliado é o fato, um arauto de quem somos que nos anuncia e expõe na justa medida que desejamos.
DIMENSÃO
A quarta chave fecha este segredo que é vestir por medida e é a que abre as portas do prazer e da sofisticação ao que manda fazer o seu fato – ou qualquer outra peça de vestuário- que declara: “Vou ao meu alfaiate mandar fazer um fato” ao invés de quem lhe basta a commodity ou a compra por impulso no comum: “Vou à loja comprar um fato”. Mandar fazer não é, de todo, um ato de consumo. É um desejo ordenado e passado entre o cliente e o mestre do ofício e, por si só, esta relação é capaz de elevar para outra dimensão o ser humano social e capaz de transformar a necessidade de se vestir numa atitude de estilo próprio e de comunicação do seu melhor antecipando uma personalidade ao mundo. É esta elevação que transforma o ato de vestir numa assinatura de estilo próprio.
Estes são os princípios básicos do fato clássico e os principais requisitos e expressões a utilizar para abordar um estilista ou um alfaiate para que aconteça bespoke, um termo que nos merecerá um artigo dedicado.